Para a menina do pescoço à mostra

Ô menina 
Você veio lá de onde o vento faz a curva
Ô menina
Gostou do que viu e quis fazer luta
Ô menina
No teatro já foi Dina do Araguaia e estudante torturada
Ô menina
Fica aqui não vai embora que a cidade contigo já tá acostumada
Ô menina
Tomou pra si o desafio de ser mulher
Ô menina
Saiu por ai dizendo que pode ocupar o espaço que quiser
Ô menina
Se somou as fileiras das que querem ganhar o mundo
Ô menina
Vamos juntas porque nosso estrago pode ser profundo

texto das recordações (das melhores as piores)

Andando de acordo com o tempo. É bom quando acontece, quando conseguimos nos harmonizar com o tempo. Tudo na sua hora, no seu ritmo e sem muitos pensamentos para o que vai acontecer amanhã. Dessa forma nos sobra tempo para viver o dia de hoje da forma mais verdadeira possível, sem aumentar ou diminuir nada. Não é preciso esperar do outro nada além do que ele já é, não é preciso esperar de nós nada além do que já somos. Nada de pensar o que vai ser daqui a uma semana, um mês. Pra quê pressa? É bem melhor quando o tempo anda lado a lado com a gente, quando a gente anda lado a lado com a gente mesmo e assim pode andar do lado de outra pessoa também. Marcando passo junto, ali pé a pé, mesmo que muito devagarzinho. É assim que se chega longe. 

Traindo os poetas

Hoje tive que passar pela dificuldade de escolha. Entre dois desejos precisei enfim escolher por um, esse foi um momento de reclusão só comigo mesma e de muito pensar, pensar e pensar. Entre prós e contras enfim escolhi, concluí que o gosto pela literatura é mesmo de família, uma vez que tenho uma irmã professora de tal disciplina, relembrei meus dias pesquisando (somente por gosto) sobre a vida de vários escritores, minhas aulas no ensino médio em que toda a turma dormia enquanto só eu debatia e participava da aula que era considerada a mais "chata". Fiz uma retrospectiva dos poucos livros de literatura que já li, de alguns personagens que adoro (ênfase para Capitu de Machado de Assis), dos poemas que tenho anotado no fim do caderno, da frase de Guimarães Rosa "Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.", e tive a certeza que nasci para gostar disso, para estudar isso e no fim lecionar. Após a felicidade da decisão tomada fui formalizar tudo, e eis que volto a estaca zero: "O curso de Letras- Literatura/Português não abriu esse semestre". Aos quarenta e cinco do segundo tempo resgatei uma opção distante, mas que também me atraía de alguma forma: Filosofia. Enfim, a decisão foi feita e eu troquei os poetas...

o melhor dos pecados

Se eu peco é no excesso de coragem
Na clareza de ser eu mesmo por opção e não por vaidade
Se eu peco é por não correr de problema
Na vontade de resolver os meus e os nossos dilemas
Se eu peco é pelo instinto da praticidade
Na manha de passar por cima de qualquer bobagem
Se eu peco é no olhar de quando eu me atrevo
Na mania de errar porque eu não tenho medo
Se eu peco é por viver a minha maneira
No hábito de acreditar que a tristeza é sempre passageira


pelo caminho

O passo se lança sem medo pela cidade
Nas suas andanças percebe que a vida é breve e de passo errado ninguém tem piedade
Vai passeando entre as ruas sozinho, nunca foi simpatizante de escolta
O passo descompassado percorre caminhos sem volta
Pela manhã é passo curto, distraído, com sono
A noite já é passo largo pelas madrugadas sem dono

pra um poeta

Continua nessa vida corrida, sem rumo, sem dono
Fica desse jeito só pra não ter tempo de perder essa cara de sono
Mergulha nos teus versos, quase sozinho, só com teu cigarro de palha
Pensa só nas suas ideias, só pra não querer tirar tua barba
Permanece ai, tristemente longe, mas no seu lugar
Mora no teu cantinho que é pra você não mudar o teu jeito manso de falar
Não deixa de registrar em letras os pedaços da sua vida
Segue esse caminho e não perde a intensidade que te abriga
Vive os teus dias e coloca sempre muito de você na tua arte
Faz dessa maneira que eu quero sempre ouvir nas tuas mensagens o teu sotaque
Preserva o teu traço mais marcante, o olhar longínquo e perdido
Assim você não perde tua lábia, teu charme de menino
Vai traçando teus dias se preocupando só com o agora
Porque ai você não deixa de ter essa tua aconchegante prosa
Leva em consideração sempre os teus instintos
Desse jeito você não deixa de acreditar que os extremos se encontram mesmo que seja só no infinito.
Roda o mundo todo e leva teu travesseiro sempre com você
Não esquece dele porque ai ele te lembra de vir aqui me ver.


percebendo a fuga

Minha vida nas horas e eu no meio das duas
Elas me apressam e me chamam
Fazem questão de me lembrar que a passagem é curta
Já sei que: ou eu acompanho, ou eu fico pra trás
A vida me consome e a hora não me dá paz
Fujo por alguns segundos, mas o barulho da cidade já vem me acordar
Levanto sem querer do sono que acabou de começar
A vida me diz que dormir é pra quem quer perder
As horas me sacolejam pra ver se eu consigo perceber
Que o tempo tá escorrendo bem na frente disso tudo
Eu, minha vida e a hora deixando tudo escapar a miúdo..

se você vier de novo

Quando você vem ou não?
O que você quer de mim?
Deixo por aí
O que você tem?
De onde você é?
Pode me esquecer
Se você quiser
Ou se deixar chover
Se você vier
Eu vou te acompanhar de fitas
Te ajudo a decorar os dias
Te empresto minha neblina
Vamos nos espalhar sem linhas
Ver o mundo girar de cima
No tempo da preguiça
Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
(Tempo de pipa)

pequenas palavras de uma pequena

Descobri que amo as palavras. Amo as palavras e seus múltiplos significados. Amo as letras, das mais bonitas até aquelas ilegíveis, tortas, estranhas. Descubro-me e em seguida reinvento-me a cada linha que escrevo. Encontro-me em cada um que escreve. Leio e sinto cada verso dos poetas anônimos desse mundo.. poetas independentes. Rascunho a minha vida nas folhas finais do caderno, registro um amor no bloquinho guardado na bolsa, encontro um amor na mais simples poesia. Na dor as palavras no papel me consolam, livro-me da tristeza a cada sílaba que formo. Na alegria as palavras me acompanham, no meu eu elas se enraízam e nos meus versos elas te tocam.

ela quer.. o olho conta

        Daquele jeito de sempre, falando com os olhos. Era assim que ela estava, assim que ela era. Não era preciso mais nada quando ela resolvia se explicar com os olhos. Sem emitir nenhum som as pupilas gritavam tudo que ela queria mostrar e em uma fração de segundos já tinha feito-se entender.

lou(cura) minha

Dedicando-me aos pensamentos, é isso que tenho feito. Vez em quando alimento umas ideias loucas, comprometedoras e que certamente me colocariam em confusões de sentimentos. As loucuras da minha cabeça que logo trato de esquecer, insistentes que são logo as encontro em meu pensamento de novo. Martelam, perduram, perturbam. Eu quase cedo e me deixo levar, quase me pego acreditando e cogitando a hipótese de dizer que não são loucuras, que tudo é possível. E não é?

poetinha

Escrevo meus poemas
Recito, respiro meu dilemas
Sou minha poeta, quieta
Faço minha literatura,
Assassino, adoço a amargura
Não quero contar a ninguém,
Nem faço questão de livros
Poeta que sou
Só registro o que vivo..


Vou sendo serenidade
Abonança procuro entre todas as tempestades
O silêncio é o grito da minha alma
Percorro, corro, encontro a calma
Falo baixo, quero que o coração escute
O berro só chega aos ouvidos,
Não há laço que perdure..
Danço, canto a melodia só no meu compasso
Acho a paz pelo acaso
Menina, força que tem por ser leve
Marcante é por ser  breve.


Fica

Reconheça-me
Me veja, chama, me acena
Perceba, me acerta, carrega
Me leva contigo pra casa
Pra uma conversa, boa, leve
Aproveita o tempo junto
Sem pressa, pressão,quem não merece?
Ajeita a prosa, estica o verso
Me diz, me lê, pergunta
Te conto, te chamo, no fim te peço
Impeço que vá, não quero
Fica, se for, volta
Eu espero

salve a menina dos olhos de deus


"De todo o amor que eu tenho metade foi tu que me deu. Salvando minh'alma da vida, sorrindo e fazendo o meu eu. Se queres partir ir embora me olha da onde estiver, que eu vou te mostrar que eu to pronta. Me colha madura do pé. Salve, salve essa nega, que axé ela tem. Te carrego no colo e te dou minha mão, minha vida depende só do teu encanto. Cila pode ir tranquila teu rebanho tá pronto. Teu olho que brilha e não para, tuas mãos de fazer tudo e até a vida que chamo de minha. Neguinha, te encontro na fé. Me mostre um caminho agora, um jeito de estar sem você. O apego não quer ir embora,  diaxo, ele tem que querer.  Ó meu pai do céu, limpe tudo aí.  Vai chegar a rainha precisando dormir. Quando ela chegar tu me faça um favor: Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for. O fardo pesado que levas deságua na força que tens. Teu lar é no reino divino, limpinho cheirando alecrim."